Família solidária – um toque de esperança

Mensagem da Comissão Episcopal da Acção Social e Caritativa para o Dia Caritas Por ocasião do Dia Caritas, que se celebra no terceiro Domingo da Quaresma, todos os anos a Caritas Nacional lança uma campanha de rua, a par com o peditório que se faz nas igrejas, para recolha de fundos em favor de uma imensidão de cidadãos portugueses e de outras nacionalidades a quem falta o mínimo indispensável para sobreviver com alguma dignidade. Com efeito, a pobreza destes milhares de pessoas constitui um autêntico espinho cravado no coração da nossa sociedade, incapaz de resolver este problema social, com contornos cada vez mais amplos e indefinidos, que não depende apenas de soluções económicas. Trata-se, antes, de uma questão social com fundas raízes culturais, que se alimentam no húmus do ambiente familiar, onde nascem, crescem e são educadas as novas gerações. Tendo em conta a importância da família na aprendizagem da solidariedade e porque estamos a celebrar o décimo aniversário do Ano Internacional da Família, pareceu-nos oportuno centrar a mensagem deste ano na família, «núcleo fundamental da estrutura social» e «primeira escola de solidariedade» do ser humano. O ser humano nasce com uma enorme apetência para aprender. Mas nada sabe. Tem que aprender tudo, a partir dos modelos que tem à sua disposição. Aprende a falar a língua que ouve falar à sua volta. Adquire os hábitos alimentares próprios do ambiente social. Aprende a relacionar-se com os outros, a partir dos estímulos que lhe proporcionam. Fortalece a sua auto-estima, sentindo-se amado. Descobre o valor dos outros, imitando os modelos que tem à sua disposição. É que a solidariedade, tal como os outros valores, não se inventa, aprende-se gradualmente, a partir de modelos significativos e de uma prática continuada. Ora, os primeiros e mais significativos modelos que uma criança pode ter são os pais, seguidos dos outros familiares, quando se trata de uma família estruturada e harmoniosa, bem entendido. Daí a importância da família na aquisição do espírito de solidariedade. Só uma família onde se vive e se pratica a solidariedade poderá formar pessoas solidárias. Só uma família solidária fundamenta a esperança de termos, no futuro, uma sociedade mais solidária, porque sem pessoas solidárias não há sociedade solidária. Infelizmente, hoje, muitas crianças são educadas mais para o egoísmo do que para a solidariedade. Tudo lhes dão e nada lhes pedem. Ocultam-lhes as dificuldades e a pobreza. Criam-lhes a ilusão de que tudo é fácil. Por isso, se consideram com direito a tudo, sem terem que renunciar a nada. Mas sem renúncia não há solidariedade. Sem solidariedade não há convivência pacífica nem esperança de uma sociedade melhor. Razão tem o Papa João Paulo II quando afirma que o primeiro e fundamental contributo que a família pode dar à sociedade é a garantia de uma forte experiência de comunhão e de participação, permitindo que as relações pessoais sejam inspiradas pela gratuidade e, respeitando a dignidade pessoal, promovam a disponibilidade desinteressada, o serviço generoso e a solidariedade profunda. Assim, quanto mais se viver a solidariedade na família, maior será a esperança de termos, no futuro, uma sociedade mais solidária. Lisboa, 21 de Fevereiro de 2004 Comissão Episcopal da Acção Social e Caritativa

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